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Formada em Letra pela UFMT

O NOIVADO NA CALÇADA

noivado na calçada

Depois da dura , continuei a encontrar o meu namorado. Isso começou a se tornar um peso em nossas vidas. Na minha casa moravam todos os meus irmãos e irmãs. Teresinha já era casada e morava com o marido em uma fazenda em um município próximo, onde dava aulas. Meu namorado ia todos os dias e ficava conversando comigo na porta de casa. Quando dava nove da noite, meu irmão Zezé me botava pra dentro. Era uma situação bem chata.

João Bosco combinou comigo que deverímos ficar noivos. Como era costume da época, a mão deveria se pedida à irmã mais velha, em caso de não haver mais pais vivos.

No dia combinado fomos falar com a minha irmã Terezinha para oficializar o noivado, pois pretendiamos casar. E assim foi feito.

Foi um cerimônia  bastante deprimente no sentido da acolhida, pois ficamos noivos na porta da casa, sem que a meu noivo fosse oferecido pelo menos um café dormido, mas foi exuberante no sentido de eu estar dando mais um passo rumo à felicidade. Essa recepção fria foi em decorrência da resistência de meu irmão ao meu noivo. Minha irmã Teresinha não podia fazer nada mais naquele momento pois havia um ralação clara de poder dentro daquela casa.

Foi literalmente um noivado na calçada, na rua, sem um teto para nos abrigar, mas junto do céu e sob as bençãos de Deus. Começamos assim nossa vida de compromissos do zero absoluto, tendo na cabeça nossos sonhos e a história a ser construída por nossas mãos.

Meses depois, em férias, fui para a fazenda, junto com minha amiga Vera, onde minha irmã Terezinha morava . Meu noivo ia sempre me ver e ai começaram novos níveis de dificuldades.

O CHALÉ

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A casa onde fiquei e onde minha irmã trabalhava era chamada de Chalé. A propriedade rural pertencia a Dr. Cristiano de Freitas Castro, parente do Presidente Arthur Bernades. Minha irmã dava aula para os trabalhadores dessa fazenda. A casa era destinada a minha irmã e seu marido José Pinto, ficando na beira da estrada que ligava Viçosa a Ponte Nova. A propriedade era repleta de frutas e um lugar agradável para se viver. O proprietário morava em Belo Horizonte e ia de vez em quando visitar a propriedade.

Quando meu noivo ia me visitar, senti uma certa animosidade, que só depois de muito tempo entendi a razão. Creio que o meu cunhado José Pinto, foi influenciado por meu irmão José Cabral e acabou acreditando que não havia boa intenção por parte de João Bosco comigo. Para o meu bem, iludido naquele momento quis me proteger.

Minha amiga Vera me ajudou muito. Eu ia para Ponte Nova com a desculpa de comprar alguma coisa e meu noivo já estava na cozinha do ônibus e só assim a gente se encontrava. Era uma dificuldade.

Um dia, João Bosco foi me visitar como noivo para programar a reta final do casamento e o meu cunhado não quis recebe-lo em casa.

Ele não quis que ficasse nem na estrada. Pegou o meu noivo e o levou de caminhão, até o município de Ponte Nova para que ele pegasse um ônibus até viçosa.  Muito tempo depois fiquei sabendo por João Bosco que por pouco ali não aconteceu uma tragédia. Como era de Mato Grosso e lá ninguém leva desafora pra casa, ele pensou muito em não revidar, o que seria normal para o seu temperamento. Graças a Deus.

Eu fiquei abobalhada na beira da estrada, vendo meu cunhado cortando uma vara para bater no meu noivo, que para evitar mais problemas subiu no caminhão e partiu. Não tive coragem nem de entrar na casa de novo. Quando eu já não mais sabia o que fazer da vida eis que para um taxi em minha frente. Era meu noivo me levando embora, pois tinha arrumado um local para que eu ficasse na casa de uma família de amigos, “Seo Joel de D. Sebastiana” em um sobrado na Rua dos Passos em viçosa.  Antes de ir falei com minha irmã que compreende de pronto.

Fiquei naquela casa esperando que minha futura sogra, Dona Oliva de Arruda e Silva mandasse os documento necessários de meu noivo para efetivar o casamento. Logo que chegou os documento levamos à igreja para que fosse apregoado. Meu irmão Zezé não se envolveu mais em minha vida depois daquela mudança. Nem ele nem meu cunhado. Acredito em uma conversa de pé de ouvido entre meu noivo e eles, mas não tenho certeza. O fato é que quando eu saia na rua, sentia medo de ser a bordada por meu irmão.

O CASAMENTO

mae casamento

Para preparar para o casamento, recebi de presente de meu irmão Napoleão um corte de tecido maravilhoso e minha amiga como era costureira de mão cheia, fez um vestido igualmente maravilhoso. Escolhi como padrinho meu irmão Napoleão e sua esposa Pompéia. Os amigos de meu noivo enfeitaram a igreja ecolocaram um tapete vermelho e ajeitaram tudo para o casamento. Meu noivo estava no último ano de agronomia na UFMT e seus colegas deram uma força enorme no seu “enforcamento”.

Marcado para as 15 horas do dia 17 de janeiro de 1959, na Igreja de Santa Rita, no centro de Viçosa, foi um acontecimento especial. Os cumprimentos foram feitos na porta da Igreja. Deu apenas para tirar uma foto. O dinheiro estava curto.  Não pude contar com a presença de meu irmão José Cabral que fez questão de não comparecer.  Luiz , meu outro irmão nos presenteou com um pouco de dinheiro para a lua de mel.

Fomos de trem para o Rio de Janeiro em Lua de mel e ficamos hospedados no Largo do Machado. A lua de mel durou menos que duas semanas pois a grana era a curta e havíamos de continuar a vida pois meu marido ainda não havia se formado em agronomia, faltando ainda um ano.

Fomos morar na casa de meu irmão Luiz Cabral e sua esposa Helia Gomide na Rua dos Passos. Depois de 5 meses, engravidei e as coisas começaram a tomar outro rumo. Era uma coisa nova pra mim. Foram nove meses de trabalhos domésticos esperando o rebento. Um belo dia começaram a dores.

A partir do lançamento deste blog, postarei dois momentos de minha vida por semana, seguindo a ordem cronológica dos acontecimentos. Paralelo a isso, postarei varias vezes por semana o passo a chamar de DICA DO DIA, com temas atuais para discussão, reflexão e questionamentos. Agradeço a todos que fizeram e fazem parte de minha vida. Que Deus abençoe a todos.

NASCEU NOSSO FILHO

Demorei 5 meses para engravidar e isso não era uma coisa normal em Viçosa. Naquela época a mulher deveria ter a função de casar e imediatamente engravidar e começas a “ninhada” de filhos. Como eu evitava, pois ainda não possuíamos situação financeira estável, eu era objeto de comentários maldosos tais como: esse casal não vai dar certo, nem engravidar conseguem ..e dai por diante.

Só quando vimos que conseguiríamos cuidar de uma criança é que engravidei, de forma planejada, causando surpresa nas fofoqueiras de plantão.

Uma coisa interessante durante a minha gravidez é que quando eu ia a igreja, enjoava e passava mal e quando ia ao cinema ou a alguma festa era só felicidade, gerando também comentários do tipo: pra rezar passa mal, pra festar tudo é carnaval.

E chegou o dia.

No dia 10 de março de 1960 a madrugada chegou com uma chuva de tirar pica-pau do oco. Já passa da duas horas da manha quando vieram as dores do parto. Meu irmão Geraldo Magela, que também morava comigo na casa de meu outro irmão Luiz Cabral, foi na chuva até a praça chamar um táxi para me levar ao. hospital. O táxi chegou e na hora de entrar, devido a chuva, o motor do carro morreu e todos, marido, irmão, taxistas e eu em trabalho de parto tivemos que ajudar para o carro pegar no tranco. Quase que o guri nasce dentro da viatura.

A criança nasceu perfeita e no dia seguinte eu já estava em casa para cumprir o que chamavam de “resguardo”.

Puerpério, também chamado resguardo ou quarentena, é o nome dado à fase pós-parto em que a mulher experimenta modificações físicas e psíquicas. Este é o período de tempo que decorre desde a dequitadura até que os órgãos reprodutores da mãe retornem ao seu estado pré-gravídico. Nesta fase, a mulher é chamada de puerpera.

Nas Minas Gerais daquela época, devido à escassez de antibióticos e anti-inflamatórios, era recomendado à mulher que ficasse em um quarto com pouco luz e comendo uma dieta básica de canja de galinha durante 40 dias, estando ou não com sintomas de qualquer enfermidade. Na roça era recomendado um pano na cabeça.

Eu não segui essa quarentena porque não sentia nada de errado comigo e em poucos dias retornei às rotinas domésticas, o que gerou também comentários do tipo: essa daí não sossega o facho nem no resguardo.

Eram tempos complicados, mas a determinação nos fez caminhar para frente.

No final daquele ano aconteceu a formatura de meu marido como engenheiro agrônomo na melhor universidade de agronomia da America latina. João Bosco Nazareno recebeu o diploma e antes do final da cerimônia, foi chamado novamente pra receber uma medalha de ouro em honra ao mérito em extensão.

Estava começando a se cumprir o meu destino. Era hora de partir e juntos tomar o leme definitivo de nossas vidas e construir uma nova história, que continuarei contando neste blog.

João Bosco Nazareno Filho (Bosquinho)
Medalha de honra ao mérito em extensão
Medalha de honra ao mérito em extensão

Maternidade à época.
O dia da formatura